Construindo um Vagão de Carga
Outubro 2007
Edmar Mammini
 
 A primeira coisa que se faz antes de se construir o que quer que seja é escolher bem o que se quer construir, para que, durante a fabricação da peça, não se venha arrepender do que está sendo feito. A escolha recaiu sobre um vagão “sui-gêneris” que possuía a Estrada de Ferro Sorocabana no ramal conhecido como Santos a Juquiá. Era um vagão de carga mista ou melhor um vagão para carga em “ Pé” e “ Bruta”. O que isso significa ?  Simples: em pé significa animais vivos como Gados, Eqüinos, Caprinos e Porcos. E bruta eram caixotes levando tudo o que se pode imaginar, bem como barricas, que na época transportavam cal, cimento, breu, pixe,
e por ai vai.
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O ramal de Santos a Juquiá foi construído entre os anos 1868 e 1876, para que ? Realmente não sei, passei a conhecê-lo nos anos de 1940 até 1965. Época que começou a ser desativado.  Quase 100 anos de uso.  O que mais se transportava era banana, sim isso mesmo, banana, saía daquela região e ia para Santos para exportação e vinha para São Paulo no largo da Banana, local onde se acha o memorial da América Latina, exatamente onde era o terminal de cargas da Estrada de Ferro Sorocabana . O largo da Banana era anexo ao terminal de cargas e lá possuía um grande bebedouro em ferro fundido, feito para burros e cavalos que tracionavam carroças e se alimentavam de.... bananas.

Os vagões que transportavam bananas eram os mesmos que transportavam carga viva, porém com um particular, as ripas eram mais estreitas e conseqüentemente os vãos das ripas também. As vezes transportavam as bananas em vagões de carga comuns (os fechados) acredito ser por falta dos outros. Mas carga em pé era tão pouca que só vinham nesse vagão que construí como réplica de uma exceção das estradas de ferro da época.  Refiro-me a primeira metade do século XX. A região era tão subdesenvolvida que excepcionalmente enviava porcos para São Paulo, mas gado e cavalo só vinha de lá. Não existia outro meio de transporte. Somente em  1956 é que se iniciou a construção de uma estrada que hoje são duas e se chamam  via Pedro Taques e via Manoel da Nóbrega .

 O vagão original era feito em madeira com uma série de ferragens; possuía dois tipos de porta uma ripada e outra fechada, na realidade a ripada era feita com vergalhões de ferro e não ripas mas a moldura era em madeira. Possuía estranhamente portas nas extremidades como que para o gado ir de um vagão ao outro, mas nunca as vi abertas. Talvez fossem usadas durante a carga dos animais. Essas portas também eram curiosas, visto que, dois terços era ripada e um terço de barras de ferro. A abertura da porta no vagão era de dois terços do tamanho da porta, de formas que, podia-se deixá-la toda fechada ou então deixá-la meio ventilada e meio fechada. Acho que era para transporte de porcos devido ao fedor.

Possuía truques do tipo diamante, o mais comum de todos os usados em vagões de carga. Os freios eram do tipo “Vácuo” nunca os alteraram para Westinghouse.  Lá pelos anos 1950 deixaram de circular pelo ramal e não mais voltaram até a extinção do ramal.
O modelo foi feito como o original em madeira, a madeira escolhida, a Peroba, com uma particularidade : a peroba usada foi tirada da demolição de um assoalho com tábuas de peroba da casa onde o autor nasceu, tábuas de peroba com cerca de 75 anos de idade quando passou a ser usada para modelismo.

Parte dessa madeira serviu para a construção da ferrovia de jardim que possui em sua residência. Os desenhos do Vagão foram conseguidos em um revista americana de modelismo ferroviário em um artigo sobre modelos de trens usados nos filmes de Hollywood . Este escolhido por mim foi usado no filme “ Union Pacific”  que o autor viu nos anos de 1940~50.    É muito semelhante aos usados pela Sorocabana, que em geral importavam o material ferroviário dos Estados Unidos de uma firma chamada “ Virginia & Truckee Box Cars Ltd.”  A descacterização é sempre obra de um mestre de obras que acha que quem fez o original não entendia da coisa!

É uma pena.  Os vagões originais eram pintados na cor vermelho óxido, entretanto devido ao transporte de animais vivos, os ferroviários os pintavam com cal viva, isto para assepsia, e com a chuva a lavar os vagões, os mesmos ficavam todos rajados como uma galinha carijó. Na época o autor ainda criança achava aquilo uma graça.  Os truques foram feitos em aço 1010 soldados, rebitados e parafusados como acontece com todos, os mancais em bronze, comum para isso, rodas em aço 1010, eixos em aço 1045. A molas em espiral destoam um pouco do estilo do vagão, mas pelo jeito o original já era assim, e foram moldadas conforme desenho específico. Os engates foram fundidos em latão pelo Arnaldo Bottan e usinados por mim. São réplicas perfeitas usadas pela  “ Estrada de Ferro Sorocabana”.

O acabamento está em verniz natural mas tenho uma intenção de pintá-lo na cor original que era “ Oxido de Ferro” mas por enquanto vamos deixar assim. As ferragens foram feitas em latão e deixadas ao natural para melhor se  apreciar a delicadeza do trabalho.
A madeira usada foi recortada em uma serra circular com um novo desenho e desempenho. É um disco de serra de marca Starret com dentes em WIDIA bem miúdos e a lâmina é banhada com TEFLON. Uma delícia de serviço!  A madeira sai tão bem cortada que não se torna necessário lixá-la de tão certinha que sai da máquina, lixa-se somente para matar as arestas que saem cortantes de tão marcadas que ficam devido ao excelente corte.

 As proporções foram obedecidas de forma que parece que se encolheu o vagão original ao invés de tê-lo feito já pequeno.
 A escala escolhida é a de sempre usada no Brasil para Live Steam, bitola 3,5 polegadas ou seja 1: 11,25 . Tem explicação nas construções das locomotivas a razão dessa bitola estranha. Quem a primeiro a usou foram os irmãos Bottan e assim ficou e mais, deu certo em nosso país.
 Pelas fotos se tem uma boa idéia da qualidade do modelo em tela.

 
 
 
 
 
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